sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mais um anjo no inferno

Caindo, sempre caindo, ao chegar no chão com um baque ele se machuca ao ouvir um estalo. Ao seu redor ele não enxerga nada.

- Droga! – ele exclama - isso dói!

Ele se põem de pé e suas asas se abrem como um leque. O homem olha para o pé e vê a unha quebrada do dedão.

- Logo a unha mais preciosa.

O anjo anda rumo ao vazio mancando da perna esquerda. Não há som, não há nada, apenas o vazio silencioso que o atormenta. O silêncio que trás pesadelos ao anjo que outrora fora alegre como os pássaros.

- Onde será que o inferno se escondeu? Que inferno!

Como uma visão, os portões aparecem a sua frente e ele caí no chão de rubi que também aparecera debaixo de seus pés.

- Essa cor é tão cheguei para o chão, se ainda fossem tapetes, mas sangue já não esta mais na moda a milênios. Lúcifer nunca teve bom gosto para as coisas, a cafonise sempre esteve vagando por seus corredores.

Surge a frente do homem um demônio bronzeado vestindo malha metálica que o encara ali no chão do inferno.

- Hum... você deve ser um dos guardas - diz o anjo com dificuldade de levantar - Nunca te vi por aqui, mas agora que vi não esqueço mais sua cafonise – o demônio levanta uma das sobrancelhas - o metal não esta mais na moda, é tão rústico, de bárbaro, e não combina com sua pele, você deveria usar lantejoulas ou paetês dourados, faria um belo contraste a sua pele bronzeada, ia parecer que estava sempre sem blusa, e umas penas iguais as minhas não lhe cairiam mal - o demônio revira os olhos nas órbitas e o anjo faz cara de náusea.

Apenas com um aceno de dedo o gigante bronzeado o manda seguir.

- Vamos a algum lugar querido? - pergunta o anjo ainda mancando tentando o acompanhar - Ande um pouco mais de vagar se não eu não posso sentir o seu cheiro de enxofre, que a propósito, diga se de passagem, não é o dos melhores aromas que se pode esperar de um guarda dos portões do inferno, você é como um porteiro, não pode espantar os visitantes com seu cheiro. Experimente lavanda ou mesmo o cravo, esta na moda nos dias atuais, esse seu chei... - o demônio se vira para trás e o segura pela gola da parte da frente da blusa e o atira contra a parede.

O anjo atravessa a parede escura e o demônio continua seu caminho resmungando.

O anjo caí de costas no chão no meio do escuro.

- Brutamontes estúpido - ele resmunga enquanto massageia as asas sentado no chão olhando ao redor - fazendo isso com um anjo da minha classe...

- Qualé a tua, frutinha? - uma voz ranhosa indaga do canto e o anjo olha para a direção com uma das sobrancelhas levantadas.

- O anjinho ta dodói é? - uma segunda voz (uma voz grossa) fala do outro lado - vamos dar uma lição em você e você vai ter motivos para ter a voz tão mole.

O anjo sorri soltando as asas e cruzando as pernas.

- Ih, olha o cara - a voz ranhosa diz - ta fazendo pose, ta gostando, ta achando que vamos realizar os seus sonhos.

- Ele vai chorar e nem vai saber o que o estraçalhou depois - a segunda voz ri, um pouco mais próximo.

O anjo sorri novamente e coça o nariz com seu jeito afeminado.

- Será que nunca disseram que preto é uma cor muito sombria e morta? Vocês se escondem de mais nela, devem aparecer mais para o mundo.

- Ih vai a merda...

- Vou ajudar vocês - o anjo abre as asas e uma luz branca ilumina o lugar - Agora esta bem melhor.

Os donos das vozes recuam para o canto em um salão redondo, enquanto o anjo no meio sorri olhando de um para o outro. Duas criaturas minúsculas, medindo não mais de 30 centímetros cada um, ambos da cor rosa.

- Eu adoro rosa - diz o anjo esfregando as mãos com um sorriso malicioso.

Uma porta se abre na frente do anjo.

-Venha logo! - diz uma voz conhecida, a voz de lúcifer- Venha antes que me arrume confusão.

O anjo se levanta e caminha lentamente mancando com um ar triste.

- Que pena - diz ele olhando para as criaturas que ainda se escondem cada um em seu canto.

- Peço perdão – diz lúcifer o olhando com um ligeiro ar zombeteiro - o guarda é muito rabugento e estressado, mas ele já foi punido pelo que fez.

- Ah não tem problema, sempre gosto de fazer novas amizades. - lúcifer o olha com desdém.

- O que você tem a falar? A muito tempo que não vem aqui, seja breve tenho os meus afazeres.

O anjo sorri para ele.

- Você sempre usando essas roupas antigas. Eu adoro, você nunca sai de moda.


Continua...

3 comentários:

  1. Acho que você atingiu o ponto de sátira desejado.
    Vocabulariozinho, em?! Vô te contar...!
    Você é normal, a cada texte que passa, você obtém progresso em alguma área específica.

    PS.:
    Por favor, da próxima mude o assunto!
    É absolutamente desconfortável!

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  2. Muito bom, Maximilian. Aplaudo-te de pé (estilo bonequinho viu). Com a autêntica plumagem dos seguidores de mestre Gaiman, você nos brinda com um fractal de seu novo trabalho, sem perder o foco do tema. Continue assim.

    Rodrigo, do Mundo da Penumbra.

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  3. Nossa, muito bom! Adorei! Achei o conto muito interessante, e bem engraçado.. mas esse "continua...", poxa, fiquei curiosa pra saber o que acontece depois.. rs

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